O LABIRINTO



O LABIRINTO
                                            
Este não é de Creta o Labirinto antigo
Onde a bela Ariadne à paixão rendida
Liou para Teseu o fio apetecido
Que o guiou triunfal à porta querida
Lá da babel escura…donde perdido
Ninguém dantes voltara à doce Vida

O nosso labirinto perverso e derradeiro
É corda que apertamos a cada momento
À volta do pescoço e chama-se Dinheiro
Enquanto heróis loucos falam de advento
Duma nova Era d’Oiro no orbe inteiro
E tudo vai ruindo de apodrecimento

Aqui não há Teseus, há só um deus cruento
Chama-se o deus-Dinheiro simplesmente
Nenhum fio o conduz ao valimento
Do Homem que o fez, da mísera gente
Que só vale o que tem…Por fingimento
Concede-se lhe um valor, mas aparente!

Ó mísera Humanidade, ó mísera espécie!
Porque segues do abismo o extremo rumo
E não a forma justa onde a Vida cresce
Tu és o mundo do medo, da fome e do fumo
A Decadência! Que entre o Dinheiro só prevalece
A Morte e a Ilusão… que bem presumo!

A Tecnologia ao serviço do Dinheiro
Projectou o Homem da produção p’ra fora
Quando ele, e só ele, no mundo inteiro
É, através da produção quem o Valora…
Mas que nunca ante o Valor esteve primeiro
 Dir-me-ão os sábios, o que vale agora!?


Fora da produção quem compra no Mercado
Se o homem sem produzir Dinheiro não tem
E a máquina que tudo faz acelerado
Nada compra e nada vende p’ra ninguém
Morreu-se à fome num mundo inacabado
E no Moderno à fome se morre também

Que é isso de «Progresso e de Civilização»?
Se no mundo artesanal a fome grassa
E na Modernidade de igual condição
De ultra-secular miséria não se passa
Onde está o Futuro se a nossa condição
Passou de velha Tragédia a Moderna farsa

Erga-se ao Dinheiro uma enorme catedral
Mais que todas as outras, bela e celebrada
A construção maior do sacro capital
Que o Colosso de Rodes mais ousada
Como é «digno dum mundo racional»
A morrer de fome na Terra envenenada!

Eis o nosso caminho, a nossa glória
Na senda do Dinheiro outra não há
Ergue-mos famintos a nossa «nobre» História
Eis a recompensa que ela nos dá
Só para a dita esquerda, privada de memória
Como a Fénix, o Valor renascerá!

Escravos do Dinheiro, míseros mortais
Cegos ou loucos, não sei o que vos guia
Viveis do Absurdo e não pensais
Que a Inteligência nunca teve alforria
Foi sempre a astúcia e o Dinheiro quem mandou mais
Mas todo o Absurdo definha e morre um dia!

Leonel Santos
Lisboa, Setembro, 2014