A ECONOMIA DA MORTE II

A ECONOMIA DA MORTE II

Rumo ao inabitável futuro da Terra-mãe
Às levadas, aos tufões, ao tornado imprevidente
Ao ar envenenado com o carvão que vem
De milhões de carros a rodar continuamente
Sem que um louco sequer…sem que ninguém
Nos grite que esse ar contamina e mata a gente
 Que destrói a Natureza, que aniquila a Vida
Que sem ela, não pode ser mantida

Que loucura é esta, pergunto aos meus iguais
Este ar de insanidade e sangria colectiva
Onde a nossa Espécie parece às vezes mais
Procurar a Morte do que querer-se viva!
Diz-me ó Humanidade para onde vais
Se não queres mesmo mudar de alternativa
E antes tombar nos braços do eterno Sono
Atulhada em carros, afoada em carbono!

Voam pelos céus azuis modernos aviões
Na terra, explodindo, vão centrais nucleares
Sobem no espaço milhentos foguetões
Eleva-se incontrolável o nível dos mares
Mas o Homem esquece que tem brônquios e pulmões
Enquanto vão derretendo as calotes polares…
Deixar de vender carros e petróleo, isso é que não
 Seria um grande “retrocesso” da nossa “Evolução”!

Nas águas inquinadas, morrem peixes, vai-se a Vida
Mas ela lá prossegue a caminho do mar
Onde de muitos lugares já a Vida foi banida
E nos verdes campos onde o gado anda a pastar
Há carbono, há adubos, na erva que é comida
Donde vem leite e carne para nos alimentar…
Mas os inocentes carros não culpem por favor
Nem as sagradas empresas do cancro matador!

No Mercado já sabemos, ninguém rouba ou falsifica
Noventa e nove e nove, eis o preço exacto
Contas são contas, nem um avo sai ou fica
Nada passa pelo crivo dum preçário ao desbarato
Quem compra um par de botas, logo se habilita
A um carro de luxo, vinte vezes mais barato
Eis o fiel Mercado moralmente a funcionar
Em prol dum novo mundo, moderno, exemplar

Como chegamos nós a esta maravilha?
Dum “sistema de Valor generoso e progressista”
Aqui não se engana, não se altera, não se pilha
Rumo ao abismo que temos bem à vista
Gere-o a corrupção que é mãe e filha
Deste Sistema férreo enquanto exista…
O Dinheiro é hoje um sonho louco e de criança
E de terror e medo na cabeça de quem pensa!

Mas quem imagina ainda que dentro do Dinheiro
E da dissociação guerreira do Mercado
Pode achar no desespero terminal dum atoleiro
O futuro do Homem que nunca foi criado
Quando a inteligência jamais no mundo inteiro
A preferência teve ou a Justiça do seu lado…
À nossa volta ruge a Guerra como outrora
E o Homem que escravo foi, é escravo agora!

Mil vezes já rolamos a Pedra da Morte
Como Sísifo em vão a rolou também…
A ECONOMIA DA MORTE não tem diferente sorte
Porque semelhantemente, igual percurso tem
Entre ilusórias Técnicas de acaso e norte…
Prenhes de promessas que nunca mais vêm
Pois também dentro dela não há outra saída
Que fugir do Dinheiro que nos esmaga Vida!

O percurso atinado nunca vai dar ao abismo
Depois de milenar e espinhosa caminhada
Irá sim dar à Paz, ao Futuro, ao Humanismo
Mas se encontra-mos a Guerra, a Morte, o Nada
 Entramos de novo ao seio do barbarismo
E fez-se forçosamente, uma marcha errada…
É esta a bandeira áurea da nossa glória
Após que aniquilamos o RUMO da História!

Aqui jamais o Homem caminha para a Paz
Nem caminha para a Guerra, é evidente
Aqui nunca se andou, nem anda para trás
Porque em tempo algum se andou p´ra frente
A Paz nasceu feita, está feita e não se faz
E a Guerra no Sistema, não para, é permanente
 Eis o caminho derradeiro da espécie Humana
Se alguém assim não pensa bem se engana

Inventamos o Trabalho e a Escravatura
 Do nosso irmão, nosso sangue, nossa espécie
E separou-se para sempre o Valor da criatura
Que passou ao produto daquele que o fornece
E não reside jamais na Humana figura…
Só uma “abstracção real”se reconhece
Com o nome de Dinheiro em todo o lado
Que é o deus do Homem e do Mercado!

Eis aqui o sapiente “Animal Vertical”*
“O rei supremo dos outros animais”
Que do mundo se imagina o númen imortal
E hoje olha impotente, as trevas abissais
Encadeado no Dinheiro como outro animal
Que em armadilha preso não pode sair mais…
Porque o Dinheiro criado aboliu sua defesa
E hoje só fugir-lhe pode, ou ser a sua Presa!

*Historiador e crítico franc. 1901-65

LEONEL SANTOS

Lisboa, Novembro 2014