HOMO SAPIENS SUBSPECIE MISERABILIS I


Homo sapiens subspecie miserabilis I


Sobre o Homem exclusivamente
A mente me força a discorrer
Do seu triunfo mísero e decadente
Posto como humana forma de viver
Que pôs o abismo aos pés da gente
Depois de Céus e Terra prometer

Nunca o Homem foi tão miserável
Nem tão desprezível quanto a agora
Quando a produção é mais rentável
Mil vezes mais que foi outrora…
Mas o fetiche-dinheiro, dissociável,
Criada a tecnologia pô-lo fora!

Nenhum sistema assente no Valor
Jamais fará o Homem livre um dia
Faça ele o que fizer, vá onde for
O valor que produz…ó ironia!
Será presa do dinheiro, fetiche-mor
Deus da miséria e da selvajaria

De início lascando a pedra dura
De forma primitiva e dolorosa
Como quem tratos sofre de tortura…
E ao cabo de tarefa tão espinhosa
O Homem criou, aos poucos, a estrutura
Tecnológica, que imaginou rendosa

Mas se fora do dinheiro, bem, nos daria
Vida mais humanitária e bem merecida
Dentro do dinheiro, tem a tecnologia
Só para nos oferecer cópia fingida
Porque o dito dinheiro logo a desvia
Como omnipotente deus e rei da Vida

De início por razões carenciais
Inerentes à própria Natureza
Carências mil, sofremos, cruciais
E com a tecnologia essa crueza
Em vez de minguar aumentou mais
Toda a nossa amarga e vil tristeza!

E assim vamos nós… ó mísera gente!
Do nascimento abrupto ao frio coval
Arrastando-se no chão como a serpente
Onde o dinheiro é deus global
E o Homem de todo o bem ausente
É lançado à lixeira industrial

Não tem de produzir fisicamente
Não é preciso já, já não importa
Mas a produção com o Homem ausente
Não existe, morreu, é coisa morta
E com a máquina posta à sua frente
O fetiche-dinheiro fechou-lhe a porta

Porque a máquina faz mas não valida
E ao Homem impede a produção…
Nem a compra nem a venda é exercida
No seio da «real e vã abstracção»
Todo o Mercado emperra e se invalida
E o sistema auto-sufoca à própria mão

Eis então a nossa espécie agrilhoada
Ao último deus, ao deus final…
Chamam-lhe Dinheiro… não vale nada…
Nem nunca valeu, nem jamais vale…
É a mão da Morte mais ousada
A arrastar-nos mais cedo pr’o coval

Duas portas nós temos lado a lado
Uma dentro do Dinheiro outra lá fora
Na primeira mora a Morte e o Mercado
Na segunda o futuro da Vida mora
Se não sairmos deste meio envenenado
Já marcou o deus-dinnheiro a nossa hora!

Ó triste e miserável ser humano
Dentro do Dinheiro nunca acharás
No sonho que te embala mais que dano
Se libertar-te do Dinheiro fores incapaz
E não ultrapassas tanto engano
A tua própria cova a’brila estás!

Leonel Santos
Lisboa, Abril 2013

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