HOMO SAPIENS SUBSPECIE MISERABILES III

HOMO SAPIENS SUBSPECIE MISERABILES III

Ó miseranda e pobre Humanidade!
No sistema do Dinheiro teu Fado está
Gravado a ferro ardente à insanidade
Que o próprio Mercado aqui nos dá
Chegamos ao cume da irracionalidade
 Somos Mercadoria que não serve já


Mercadoria só, abjecta e desprezada
No seio dum Mercado irracional
Somos humanos e não somos nada
Somos a vasa da lixeira industrial
Chegamos ao fim duma longa estrada
 Onde o abismo espreita o suspiro final   


Lá na pradaria ou no cerrado
 Segue a besta a via que aprendeu
Quando o saber não lhe foi dado
 E o Homem que tanto o recebeu
 Vive perdido na selva do Mercado
 Confuso, sem achar o rumo  seu!


Aqui, cada dia mais passado
A selva se aproxima mais de nós
Ou nós dela, que será mais acertado…
E funde-se nos ares com a nossa voz
 Um som pouco ou nada humanizado
Pressentimento dum amanhã feroz


O Dinheiro aqui manda mais que nós
Mais que “O Mostrengo lá do fim do mundo”
Que inquiriu com medonha e cava voz
“O Homem do leme e Leis de D. João II”…
Porque nunca ao Dinheiro algo se impôs
Nem papas, nem reis, foram mais fundo!


Enquanto o deus dinheiro reger a Terra
Não imaginem amores, nem flores, nem madrugada
Dentro desta abstracção que tudo encerra
“Abstracção real” e complicada…
Que só nos dá tristeza, fome e guerra
Presente sem futuro… futuro de nada!


O sonho do mundo acabou, não sonhem mais
Morreu o sonho do sistema em que vivemos
Só produzem valor os racionais
E se nada produzimos nada temos
No sistema do Valor, os animais
Valem mais que nós, sem o dinheiro valemos


Falem, gritem, se acham bem gritar
Não vos digo que se calem, se há razão
Mas não é no grito é no raciocinar
Que existe a chave da libertação
Se de produção tivemos de mudar
É forçoso mudarmos a repartição  


Sabemos que sem o Homem se faz pão
Porque a tecnologia o pode fabricar
Mas dentro do dinheiro põe-se a questão
Que sem ele o não podemos desfrutar
Lute a nossa mente com toda a razão
Que razão alguma nos pode libertar


Ó espanto! … Ó loucura de sistema!
Ó exemplo de louca barbaria
Onde não pode chegar nenhum poema
Nem poeta nenhum chegar podia
Não se pode articular nosso dilema
Dentro desta vivência de utopia!

Leonel Santos
Lisboa, Maio 2013

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