QUADRAS E
QUADROS DUM SISTEMA ABSTRACTO
Ouço o
Homem soltar palavras ocas
Não sei o
que reside em seu pensar…
Que o
paraíso ainda irá chegar
Conforme
prometeram sábias bocas!
Palavras
nada próprias, nada poucas
De
propósito ou não eu ouço errar
Será que
há esquivança de pensar
Ou andam
por aí Erínias loucas?
O Trabalho
morreu não volta mais
E chamar
um morto é grito vão
Foi depois
de esgotar sua função
Que
faleceu de causas naturais
Todos nós
aqui somos mortais
Para bons
ou maus não há excepção
E o trabalho
foi como os mais vão
Deixando
ao Dinheiro danos fatais
O valor
que o dinheiro mostrar tentou
Foi
trabalho usurpado aos racionais
Mas morto
o Trabalho ele jamais
Pode
erguer o pendão que alevantou
Se o Homem
gera Valor ou o gerou
A máquina
faz, empilha e armazena
Mas valia
não lhe dá grande ou pequena
Sem
valorar o Homem que expulsou
A praxe do
dinheiro está esgotada
Pelo seu
próprio sistema irracional
E se a
produção do Homem já não vale
A máquina
sem Ele, é também nada
Ó
espécie-vergonha, infortunada
Quando
podemos mais menos logramos
E tememos
o mundo em que habitamos
Sem rumo,
sem futuro, por cega estrada!
Somos nós
a grande Humanidade
Filhos dos
deuses, até, há quem o diga
Forçados
pelos “sábios”, como o “saber” obriga
Mil mentiras aceitar como verdade!
Assim chegamos a esta iniquidade
À fome, à mentira, à selva humana
Onde o Dinheiro nos prende e nos engana
Nos cárceres infaustos da sua vanidade
Aqui estamos sem saber a nossa via
Se o nosso amanhã existe ou não
Vendo à nossa volta, crime e podridão
E o mundo a desabar dia após dia
Só que entre o dinheiro nada prospera
Como sobre escalvada e dura rocha
Onde nada viceja ou desabrocha
Haja ou não calmo estio e primavera
Mas se Tecnologia não atina e desespera
Sobre o ponto cimeiro a que subiu
E em vez de se expandir se contraiu
Até que tenha o Bem p’ra que nascera
Se não fabrica, não se expande e se detém
Porque não lho permite um mundo errado
Onde entre leis cegas de Mercado
Nada pode obter quem nada tem
No mundo do Dinheiro não há saída
Nem forma de escapar a tal algoz
A
Tecnologia transmuda-se, é feroz
Porque a sua missão está invertida
Parada
e distorcida, impede o Bem
Por não poder expandir a produção
E o Dinheiro “real abstracção”
A torna como ao mundo em seu refém
Mas se dentro do Dinheiro é impedida
De libertar o Homem em sua acção
Ela é fora do Dinheiro libertação
Mas dentro do Dinheiro se opõe à Vida
Saibamos libertar a Vida humana
E a própria Terra-mãe que o ser nos deu
Saibamos que o Trabalho já morreu
E dos abstractos Céus valor não mana
Se temos mente valida e soberana
Fujamos mais ao grito do que à mente
Quando há mais fartura à nossa frente
Porque morre o mundo à fome, ó Terra
insana!
Leonel Santos
Lisboa, Julho 2013
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