A ECONOMIA
DA MORTE
Ó sábios
eloquentes mais que todos
Libertos
de sombras e quimeras
Que o
mundo estudastes de mil modos
Do fundo
dos mares à ordem das esferas
Que de
tudo haveis saber a rodos
Dos
modernos tempos e das velhas eras…
Para onde
caminhamos me dizei
Que eu só
vejo o abismo e mais não sei!
Porque
chegou o Homem a tal estado
Onde o ar
que nos cerca nos condena
A ingerir
carbono envenenado
E o
Mercado que de nós tem grande pena
Cada vez
vende mais falsificado…
E a
carteira mais vazia e mais pequena
Nos força
a estender a mão à Morte
Que é a
porta que nos abre a nossa Sorte
O trabalho
morreu e o Valor
Igualmente
morreu não volta mais
E o
dinheiro que é o deus nosso senhor
Da mísera
existência dos mortais
Esgotou o
seu papel usurpador
De senhor dos
esforços laborais
E cada vez
mais e mais será
A Morte
que sempre andou por cá
Como
cavalo que cega na corrida
O Homem
corre atrás desta miragem
Onde a
Morte tanto vale quanto a Vida
Só depende
do preço ou da vantagem
Num
Mercado onde o lucro é a medida
Ah! Se não
inverte o Homem uma viragem…
Dentro do
Dinheiro só tem a Morte
E por fim
não haverá Fraco nem Forte
Com o fim do trabalho e do Valor
Abriram-se à Vida portas e janelas
E essa mísera nudez vei-nos dispor
Uma clara visão através delas
Todos do grão Dinheiro são a favor
Com a esquerda a ter as leis mais belas
Colando os velhos cacos do capitalismo
A quem
dantes chamava o negro abismo!
Mas
deixemos o mostrengo dos partidos
E olhemos
o monstro mais de frente
O deus de
todos os bem e mal nutridos
O Dinheiro
que compra a vida e mata agente
A «JAULA
DE FERRO» onde estamos metidos
E como
Prometeu agrilhoados sempre…
Em nome
dum bem que não existe
Não há nem
pode haver algo mais triste!
Fomos
ensaiados para caminhar
Rumo a um
futuro de falso Bem
E andamos
há milénios a esperar
Por esse
dito futuro que jamais vem
E bem
louco está alguém que imaginar
Que a selva do Dinheiro futuro tem
Aqui não
há Futuro, há Fome, Morte e Guerra
Só o
futuro inabitável da mãe-Terra
Hoje não
são os bispos, os padres, os profetas
Quem nos
promete do Éden o doce encanto
São os
sábios, os doutores, a cujas metas
Nunca a
astuta Igreja desceu tanto
A não ser
nas longas trevas abjectas
Das
fogueiras do seu Ofício Santo
Pois agora
só nos média dá sermão
A ver se
lhe aparece um deus barão
Que mundo
é este em que eu e vós vivemos
Somos, é
verdade, Humanos racionais
Mas que
importa isso se nada valemos
Se o Valor
está no Dinheiro em nós jamais
Temos
Tecnologia quanta queremos
Mas a
miséria é sempre de proporções iguais
De que nos
vale a tão sábia e lesta Tecnologia
Quando
assentamos os pés sobre a Utopia
Meditemos
no Dinheiro, na Vida que piora
Arranquemos
da mente um pensar profundo
Vede que a
Fome e a Guerra nos devora
A todas as
horas por todo o largo Mundo
E dentro
do Dinheiro a Vida se evapora
Num sonho
cada vez mais moribundo…
Nada pode
haver mais triste e surreal
Do que
sermos nós, de nós, o maior Mal!
LEONEL
SANTOS
LISBOA,
OUTUBRO 2014
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