PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO



PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO a)

Eu não sou o raio do deus Tonante*
Que sob o Etna pôs o vil Tifeu*
Não sou deus algum, nem sou gigante
Mas acima de mim ninguém cresceu
Sou o Homem sapiens, que vos garante
E demonstra ao dinheiro que nada é seu
E que tal peste que um dia concebemos
Antes que ela nos mate a mataremos

Na sociedade fetichista do valor
Quem cria o valor, valor não tem
Sendo o Homem o exclusivo criador
De todo o valor…jamais alguém
Se poderá dizer seu produtor
Se filho não for de humana mãe…
Dirão que a tecnologia tudo faz
Mas de fazer valor não é capaz!

O dinheiro nos escraviza e nos reduz
É «abstracção real»*, fetiche e fé
 Que absurdamente nos conduz
E não deixa o Homem ser quem é
Pois lhe usurpa o valor e não produz
Nem nunca produziu um avo até
Dinheiro produz dinheiro e nada mais
Se há outras concepções não são reais

Sabemos que o dinheiro nos pareceu
Em datas de forçosa produção
Eterno rei do mundo onde nasceu
Mas o Homem apurando a profissão
Fez a Tecnologia e concebeu
Poder com ela achar libertação
Mas logo o dinheiro viu que assim podia
Continuar fazendo o que fazia

Nunca com o dinheiro, sagrado nume
Libertar-nos-emos na verdade
Sem que essa «abstracção real» se esfume
Nas entranhas duma nova sociedade
Onde tecnologia de sonoro volume
Possa bradar a toda a humanidade:
Eu a mando do dinheiro apenas posso
Fazer em vez do Bem o Mal vosso

Para a tecnologia ser diferente
Tem de ser do dinheiro erradicada
Para poder abrir à escrava gente
O progresso da sua mão velada
Que no mundo do dinheiro opostamente
Será da espécie humana vera espada
Onde morte e vida são iguais
Só o dinheiro nos diz quem vale mais

Ó mísera Humanidade, ó mísera gente!
Que andais a fazer há tantos anos?
Se não vedes o abismo à vossa frente
O caos agravando infaustos danos!
P’ra que serve afinal a sábia mente
De que dotados somos nós humanos
Se quando há mais meios ao nosso alcance
Mais fazemos que a funesta fome avance!

Libertado o Homem à produção
A máquina é agora o produtor
Dum mercado amorfo e sem valoração
Dentro do dinheiro que é seu feitor…
Só fora do dinheiro e sua nefasta acção
O Homem será Homem em seu esplendor
Enquanto na forma do dinheiro cresce
O sinistro fim da nossa espécie!

a)Se há nova forma de produção
 tem de haver nova forma de distribuição.
*Deus Tonante: Júpiter
*Tifeu: Um dos titãs
*Abstracção real: O dinheiro
Leonel Santos
Lisboa, Janeiro 2013

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