A Politica de Decadência e a Decadência dos Políticos


A Politica de Decadência e a Decadência dos Políticos

Que gritaria é esta e desatino
Reina nesta sala e nesta gente
Onde, dizem, se busca o bem somente
Mas onde bem algum não descortino
E mais julgo ouvir um som caprino
Do que voz humana propriamente

O que metade afirma, outra desmente
Todos são heróis, quando não santos
Mas o barulho chega aos quatro cantos
Num debate obscuro e permanente
E ninguém soube nunca o que esta gente
Aqui está fazendo há anos tantos

Jura cada um que tem na mão
Soluções nacionais e actuais
Mas nenhum teve nem tem mais
Nem razões actuais nem solução
Cada dia que passa passa em vão
Com discursos menos racionais

Há sorrisos de troça e ironia
Se o tribuno do lado é rebatido
Por outro charlatão mais entendido
Na mesma vasta e vã charlataria
Vê-se um ar de comédia onde devia
Ver-se um ar de respeito enaltecido

Esta gesta de sábios outonais
Para quem os ouve e não conhece
Medicamentos têm de toda a espécie
Para todos os males nacionais
Talvez morra o País com cura a mais
Em vez de morrer do que padece

Todos oferecem fartura e têm p’ra dar
Trabalho em abundância noite e dia
Enquanto o desemprego se apropria
De tudo o que estava a funcionar
Vamos longe assim por este andar
Para onde é que ninguém nos anuncia

Todos são sinceros e patriotas
Primeiro está o País, eles no fim
Fica-lhe muito bem falar assim
Contra corrupção, Valor ou notas
Quem adore antigas anedotas
Veja na TV este festim

Eles têm nas palavras no condão
Dos xamãs das selvas tropicais
Com cura p’ra todos os mortais
E o poder de fazer pedras em pão
Nunca os sábios mais sábios saberão
Medir o seu saber ou saber mais

Com o trabalho morto e sem Valor
Que ponha o Sistema em movimento
Todos que têm ali seu alto assento
Têm a chave do mundo superior
E qualquer fedelho é um doutor
Que oferece Céu e Terra ao memo tempo

Como numa rábula teatral
Onde a comédia cega encobre o drama
Qualquer actor dos que ali mama
Numa prosa pouco natural
Exala um cheiro a mofo social
E sente-se a barbárie que já nos chama

Leonel Santos
Lisboa, Abril de 2010

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