A SOCIEDADE PARADOXAL II


A SOCIEDADE PARADOXAL II (*)

Enlevados no seio da nossa ficção
E no espaço da nossa fantasia
Prendemos a vida à abstracção
E partimos por estradas, onde a noite urdia
Sem estrelas, sem luar…em plena escuridão
O rumo trágico que nos impelia

Secularmente, vagueamos no vazio
Sem maneira de achar claridade
Até que tudo estremeceu, tudo ruiu
Mas o mundo vivido não foi Humanidade
Foi uma Sociedade que apenas exigiu
Confrontar a nossa mente com a realidade

Sonhamos as vertentes, as encostas e o cume
Duma abstracta montanha…só suposta…
Mas tudo se esvaiu, como se lume
Mudasse em carvões e cinzas tal encosta
Foi-se o verde, as flores e o perfume
As sombras frescas, de que toda a gente gosta

De cada um, o sonho construído
De geração em geração, tornou-se num monturo
E agora desperta num bosque entristecido
Num arneiro estéril, sombreado e escuro
Com mil sereias cantando ao nosso ouvido
Que amanhã…sempre amanhã…chega o futuro!

Assim por votos vãos sempre embalados
De sonho em sonho, num mundo irracional
Mártires do Dinheiro e dos Mercados
Eis a nossa grandeza racional
Na mercante abstracção encadeados
Como os nossos avós a um deus imortal

Sendo o Homem exclusivo produtor
Do único valor que o mundo aufere
Com a tecnologia ao seu dispor
Toda Sociedade terá de rever
O Sistema Dissociativo do Valor…
E aboli-lo para não desaparecer!

Se a máquina sobrepôs sua valia
Ao Homem que encarnava a produção
Quando nela tinha a primazia
Tem de mudar de vida, quando não
Será escravo, como dantes foi um dia
Com nome diferente e diferente condição

Clamar por trabalho e por dinheiro
É chamar à vida quem está morto
É ofertar ao cego um candeeiro
É tentar entortar o que é já torto
Se a tecnologia está primeiro
Para nós foi feita que me importo

Nesta causa, contudo, há que prever
Se a máquina se pode pôr de lado
E o Homem o que já foi voltar a ser
Certamente ninguém é tão frustrado
Que imagine ou queira converter
O presente do Homem no passado

Se a máquina estoicamente está à frente
Dos meios de produção há que rever
Toda a vida humana de hoje em diante…
O sujeito do Dinheiro está a ver
Que o Mercado não vive sem a gente
Nem a gente com ele pode viver!

(*) Falta de nexo ou de lógica.

Leonel Santos
Lisboa, Junho, 2012

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