Os vendedores de promessas


Os vendedores de promessas


Eu vejo na rua um bando de truões
Que dão às criancinhas beijinhos e balões
E beijam as mulheres com euforia
Na venda de qualquer mercadoria
Que apregoam com voz esganiçada
Que da primeira vez ninguém paga nada
São molhos e molhos de promessas
Que são oferecidas em grandes remessas
Com longos sorrisos e largos abraços
De papagaios palrantes e alguns palhaços
Toques de pandeiro, gaitas e tambores
Juntas com papeis, bandeiras e flores
E fotografias de importante gente
Tornada humanista repentinamente
Que á guisa de actores gritam aos ouvintes
Que vão ajudar os contribuintes
E nos embalam com doces melopeias
Como outrora aos nautas faziam as sereias
Prometendo montões de bem-estar
Com um sorriso oco, cínico e alvar
Tudo a bem dos pobres e dos fracos
Dão canetas, aventais, bonés e sacos
E prometem justiça com firmeza
Habitação aos pobres, cama e mesa
E qualquer partido que ganhar
Reformas e pensões tudo a dobrar
E trabalho p’ra malta a pontapés
A ganhar por dia o salário dum mês
Para já dizem jornais e televisões
Que há falta de padres, missas e sermões
Quanto às habitações vão ser baratas
Talvez, um pouco acima das batatas
E serão ainda grátis, a saúde e escola
Construção de igrejas campos de bola
E de porta em porta, rua em rua
Prometem uns o Sol, outros a Lua
Avisando que quem souber escolher
Até pode, só com o voto, enriquecer
Escuse portanto, o Euromilhões
E saiba escolher nas eleições
Verá que a Crise logo se evapora
E o dinheiro borbulha a toda a hora
Como a água a sair de uma nascente
Ou, a banha da cobra antigamente
Que curava, sem falhar, qualquer doença
Inclusive velhos e cegos de nascença
O voto e exactamente igual
Semeiam-se algumas notas no quintal
E passado um mês ou mês e meio
Vai-se lá buscar um saco cheio
E os bandos vão percorrendo as feiras
Prometem venda cara às vendedeiras
E a compra barata à freguesia
É o último grito em democracia
Comprar caro e vender barato
Será a solução deste Sistema ingrato
Quanto aos impostos, os partidos
Acham que devem ser todos banidos
E cada um terá maior fartura
Que aquela que precisa e que procura
Porque a Crise não tem escapadela
Com toda esta gente a malhar nela
Gente séria, gente sábia e tão dotada
Que consegue ver tudo onde está nada
A não ser as trevas e o escuro
E um sonho morto… chamado futuro
Mas… tira-te tu p’ra me pôr eu
Foi a única história que esta gente leu
Todos tão diferentes e todos tão iguais
Apenas votam juntos para ganhar mais
E enquanto tudo a funda no abismo
Vão grunhindo tretas de humanismo
Que sacrifício duro, que luta tão atroz
Esta gente trava aqui por todos nós
Há que imortalizar tão nobre espécie
Quando tanta Palha nos oferece!

Abul-Alá al-Maari
Lisboa, Agosto 2009

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